quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Coluna da Paah - Casters: a narração da história do e-sports nacional


Um campeonato de League of Legends não é espetáculo feito apenas por cyber-atletas. Todos nós sabemos que se jogo fossem apenas os times batalhando entre si, não seria nenhum pouco legal de se ver, certo? Um jogo sem narração não teria mesma emoção quando um time roubasse um Barão do outro ou quando um time conseguisse fazer uma luta que levasse a vitória. Às vezes nem notaríamos que tal item ajudou tal campeão usado por tal cyber-atleta se um comentarista/analista não tivesse dito, ou nem começaríamos debates legais em cima de tal afirmação.

Sim, estou comentando do trabalho dos casters e comentaristas! Trabalho esse que deixa nossas partidas cada vez mais emocionantes e que também tem um cunho analítico enorme no entendimento do sucesso ou derrota de determinada partida.

Na matéria de hoje, eu contei com a participação de Gustavo “gstv1” Cima, comentarista e analista de e-sports, ex-membro da Agência X5 e, também, Gustavo “Melão13” Ruzza, narrador (caster) atual membro da Agência X5.

Como tudo começou...

Assim como fora do país, aqui nós podemos contar com um time de casters e comentaristas de e-sports qualificados. Mas como no Brasil os e-sports começaram a engrenar agora, vale contar um pouco de como começou essa história de narrações por aqui.

Melão13 conta que em 2012, exatamente a dois anos do dia 25 de agosto (ou seja, fazendo aniversário de dois anos anteontem), pediu ao Diego “Toboco” Pereira,  (o mesmo já narrava campeonatos naquela época), que o mostrasse como era isso feito de perto. Nesse mesmo dia, uma pessoa estava cotada para fazer a transmissão com ele, mas ela não compareceu. Daí Toboco teve a ideia de convidar o Melão13 para comentar. A partir de então, ele não mais parou.



Um tempo depois, Melão13 foi convidado pela Nex Impetus para fazer algumas transmissões para eles. E foi através da Nex que o Melão13 conheceu boa parte do pessoal da Agência X5.

Já gstv1, conta que no início de toda essa história de e-sports nacional não existiam muitos comentaristas e casters. Era basicamente o Toboco quem fazia o trabalho e chamava jogadores que não estavam participando de campeonatos para ajuda-lo como comentaristas.

O contato real do gstv1 com as transmissões, foi em um campeonato da LegendsUnion, uma organização que teve papel importante no desenrolar da historia do LoL como e-sport aqui, onde ele comentou junto com P3po. Daí, ele gostou muito da ideia e em meados de 2013, ele tentou entrar para esse meio. O mesmo tentou voltar como cyber-atleta, mas o Melão13 o convidou para comentar e analisar o LCS, pela Agencia X5, onde o mesmo foi freelancer até o mês de Julho deste ano.

Nasce, assim, a Agência X5

Deu pra perceber que a Agencia X5 teve e ainda tem certa importância no que diz respeito ao trabalho de casters do cenário, né? É hoje uma das responsáveis por várias transmissões de campeonatos e narrações na atualidade. No seu time de casters, conta com Toboco e Guilherme “Tixinha” Cheida.

Segundo Melão13, a Agencia X5 nasceu, basicamente, da junção de projetos ligados à: Brasil Gaming League (BGL), Seleção Brasileira de Games, LegendsUnion (que como já vimos, foi pioneira nas transmissões de campeonatos) e a Arena X5, que já existia antes da Agência.


A rotina de um caster...

Algo que sempre gera certa curiosidade quando o assunto é trabalho + games, é em relação a rotina dos envolvidos, não é verdade? Diante disso, eu perguntei aos dois convidados sobre como funciona a rotina deles.

Segundo gstv1, sempre rolava uma conversa entre os casters onde, de um aspecto geral, discorriam muito sobre atualizações e o que mudaria, num todo, com a chegada delas. E ainda comenta que como analista, ele ainda tinha que compartilhar pensamentos sobre coisas que poderiam acontecer/aparecer e os motivos por trás disso. Gstv1 ainda comenta que, sempre uma vez por semana, dedicava um tempo para ouvir sua transmissão pra ver o que estava bom e o que merecia melhorar.

Tanto na época em que estava na X5, quanto agora, gstv1 acompanha bastante os campeonatos, o que estão falando no reddit, atrás de informações legais.


Sobre sua rotina, Melão13 foi bem especifico dizendo que nos dias em que tem partidas pela BGL, ele acorda por volta das 9hs e faz stream até no seu almoço. Tira um tempo para resolver coisas pessoais e sai de casa, chegando ao estúdio sempre com uma hora de antecedência das transmissões para ir se preparando. Esse preparo consiste em basicamente testes para a transmissão, levantamento de informações sobre jogos, etc.

Sobre a questão de adquirir conhecimento sobre o jogo, Melão13 disse que por jogar LoL a muito tempo, o mesmo se sente tranquilo em relação a nomes de itens, campeões e os valores dos mesmos, mas quando percebe que não sabe de algo ou sente dificuldade, ele faz uma pesquisa e estuda sobre tendências, metagame, etc. E ainda sempre conversa bastante com os colegas.

Os projetos pessoais de cada um

Como nós bem sabemos, Melão13 tem um projeto chamado “Sem Dodge”, onde ele entrevista pessoas ligadas ao competitivo do LoL. O mesmo disse gostar muito do projeto, principalmente por ser algo ligado à carreira dele como psicólogo. Pois ele tem que  sentar, ouvir o que o outro tem a dizer e “escavar” (nas palavras dele) o que o convidado não gostaria tanto assim de dizer.


Já gstv1, depois de desligar-se da X5 tem investido muito na sua stream e vem procurando por patrocinadores. Vale ressaltar que ele ainda conta com um canal no YouTube onde posta vídeos falando sobre várias coisas legais ligadas ao jogo e ao seu trabalho como analista/comentarista.

Gstv1 disse, também, que vem recebendo propostas legais para campeonatos e eventos que ocorrerão mais para o fim do ano, mas que nenhuma dessas propostas, ainda, está fechada. O mesmo diz se sentir feliz, pois está crescendo mesmo fora da Agencia X5.



Perguntei se teremos surpresas, e ele comentou que não diria serem surpresas, mas salientou sobre as propostas e que quer continuar a narrar e está torcendo para que isso aconteça novamente.

O trabalho com games: um sonho ou pesadelo?

Muitos de nós que gostamos de games, sentimos uma pontinha de inveja quando vemos um trabalho bacana e bem desenvolvido por profissionais desse meio e acredito que a grande maioria gostaria de estar no lugar destes profissionais.

Visando essa questão do sonho de trabalhar com games, perguntei a gstv1 como é, e ele disse que é ótimo, mas tem seu lado ruim também. Diz que por mais que o trabalho tenha a ver com algo que gostamos muito, ele deverá ser tratado como tal.

Porem, gstv1 ainda salienta que quando gostamos muito de algo, é difícil fazer a separação do gostar com o trabalho. E foi por isso que demorou tanto a dar o passo para sair da X5. Disse que supervalorizava seu trabalho por ser algo que gosta muito de fazer. Ele comenta, ainda, que se fosse um outro emprego qualquer, nas condições em que ele trabalhava, com certeza teria saído muito antes. Ele afirma que, acabou aceitando muitas coisas que não deveriam ser aceitas, só por estar fazendo algo ligado ao que gosta. E finaliza sua fala dizendo que espera que o e-sport cresça para que muitos não tenham que aceitar certas coisas em nome do que ama.


Já para Melão13, trabalho sempre é trabalho e não é prazeroso o tempo todo. Para ele, trabalhar com jogos eletrônicos é fazer o que ama e que esse fato, torna boa parte do seu trabalho prazeroso.

Mas por outro lado, Melão13 diz que narrar é algo muito mais cansativo do que parece. E que a pior parte, para ele  são os horários. Ele salienta que não tem uma vida “normal” e que abre mão de amigos, família e lazer por conta disso. Todavia, ele ainda comentou, bem-humorado, que prefere sua rotina “maluca” a um horário comercial em um escritório.

Melão13 conta ainda que, lidar com as críticas foi algo que o fez crescer. Pois ele aprendeu muito com o público. Mas que o “hate”, aquela critica negativa sem sentido, deve ser ignorado, pois quem faz isso, faz por simplesmente fazer e que ligar para isso não acrescentará em nada.

Funfact: coisas que acontecem sem querer durante e por trás das transmissões

Perguntei a eles sobre as coisas engraçadas que já aconteceram nas transmissões ao vivo e se teve algo por trás que foi engraçado, e Melão13 disse que uma vez falou um palavrão durante a transmissão. E jura que ninguém ouviu e que nunca iremos descobri-lo (me senti desafiada! E vocês???).


Gstv1 relembrou das várias vezes que pausaram um jogo e que eles tiveram que embromar até voltarem com o mesmo. Disse que acontecem os clássicos de piadas ruins, falar besteira por conta do cansaço ou dizer redundâncias como “matar o morto” e “cometer um erro errado”. E ainda comenta que as melhores piadas sempre acontecem nos bastidores.


E nós, mortais que queremos nos tornar casters? Qual o caminho que leva ao “pote de ouro”?

Eu, como jogadora fico curiosa em como nós, mortais, podemos trabalhar com games e chamarmos esse feito de profissão. Tendo em vista isso, pedi que dessem dicas de como se tornar um caster para os convidados.

Para gstv1, deve-se conhecer muito sobre o jogo, ter sempre humildade e saber ouvir outros comentaristas do mundo. Pois assim, aprende-se algo novo  tanto no jogo como para a profissão. E ainda salienta que esse é um trabalho onde nunca deve-se contentar com o que sabe, pois há sempre o que melhorar.


Para Melão13, no caso dele, ele sempre esteve no lugar certo e na hora certa. Entretanto, diz que a melhor forma de entrar para esse meio é mostrando seu trabalho. O mesmo comenta que canais como YouTube e a Twitch ajudam demais nessa parte de mostrar o potencial que temos. E finaliza dizendo para agarrarmos as oportunidades que aparecem.

Por fim...

Bom, hoje nós tivemos a oportunidade de ver um pouco mais de perto como é o trabalho de um caster. Nos foram contadas  histórias de como os dois participantes começaram sua carreira. Atraves das falas, podemos ver, também, o começo da história dos casters em relação ao e-sports no Brasil. Notamos que não é uma tarefa fácil, que precisa ser aprimorada constantemente. Vale ressaltar que os casters abrem mão de muitas coisas para proporcionar algo bacana  para nós e que realmente mereceram estar onde estão hoje.

Pra fechar com chave de ouro, gostaria de agradecer a participação de ambos e também pelo carinho, tanto em meu nome como no do Demacia. Gostaria de dizer que foi maravilhoso conversar com vocês e entender como é ser um caster. Podem ter a certeza de que com isso, o meu respeito pelo trabalho de vocês e o desejo pelo sucesso de ambos cresceu mais. Muito obrigada!

Cya!~


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