
Recentemente, a myCNB publicou uma analise sobre o intercâmbio de jogadores coreanos para o Brasil, e sua preocupação com os resultados a longo prazo. Segundo entrevistas publicadas na analise, de grandes nomes do cenário nacional, os jogadores estrangeiros melhoram muito o cenário a curto prazo, mas temem que, a longo prazo, a distância entre o cenário profissional e o cenário amador seja tão grande que desestimule a procura por novos talentos, fazendo com que aproveitem apenas os que já existem atualmente.
O tema vem sendo bastante debatido desde a entrada de coreanos para a equipe da Keyd Stars, mas ganhou muito mais força com a vinda dos jogadores da paiN Gaming. Com a contratação de dois coreanos também da Team 58ers, o assunto se tornou urgente, e o que era festa, hoje divide a opinião até de especialistas. Quão benéfico é a importação continua de jogadores coreanos para o Brasil, e até que ponto isto incentiva ou desincentiva a formação de profissionais nacionais?
Para começar, eu não concordo com o que foi dito, que a vinda de coreanos cria uma desvalorização do cenário brasileiro. Mesmo sem os coreanos, as equipes grandes sempre tiveram algum "medo" de treinar jogadores do zero. Boa parte dos jogadores dos times tier 1 de hoje atuavam em equipes fortes que se desfizeram, como a Nex Impetus (lar de quase todos os jogadores da CNB e-Sports, e por onde grande parte dos jogadores do competitivo atual passaram), ou a Insight eSports (onde também se formou grandes nomes). Ou seja, o problema não são os coreanos, são os próprios brasileiros.

A maioria dos jogadores da atual CNB vieram da antiga Nex Impetus
Além disso, até recentemente, os jogadores que estavam no topo pararam de querer crescer. O próprio jogador Felipe "brTT" Gonçalves, em seu discurso de despedida da paiN, falou isso sobre a equipe. O problema foi enxergado até mesmo por Yiliang "DoubleLift" Peng, da Counter Logic Gaming, ao afirmar que vê os mesmos nomes proeminentes no Brasil desde que começou a jogar profissionalmente. Para Gustavo "gstv1" Cima, os jogadores conformados realmente existem, e devem ser "encontrados e substituídos, ou eles tem que melhorar".
Quanto a organizações pararem de olhar para novos talentos, o que vemos atualmente é o contrário. Times amadores tem se tornado cada vez mais evidentes, principalmente desde que a LegendsBR (antiga Kaov Carregador) e a Ban Karma Gaming (antiga Sexy sem ser vulgar) se classificaram para a CBLol, mesmo disputando com equipes de jogadores profissionais. Se há jogadores que se sentem desincentivados, com alguns acontece o oposto. Para Luigi "Kaov" Mataratsiz, da LegendsBR "a vinda de coreanos me fazia esforçar mais. E com certeza é assim para o resto do meu time."
Além disso, dizer que as equipes brasileiras podem "regredir" caso os coreanos vão embora é dizer que não temos capacidade nenhuma de crescermos sozinhos. O que aprendemos com os coreanos não vai embora com eles. Porque times como a CNB e-Sports, que não contam coreanos, ficariam mais fortes e os que perderam os coreanos se estagnariam numa posição ruim? O mais lógico é assumir que, mesmo com a saída de coreanos, as equipes continuarão a crescer com o que eles deixaram: Um estilo de jogo com muito mais disciplina e aproveitamento de objetivos.

A CNB e-Sports é um time 100% brasileiro que empatou com a Keyd em várias partidas na CBLol 2014
É, claro, um fato inegável que os coreanos trazem uma vantagem enorme para os que os contratam. A paiN foi lanterna da CBLol durante o campeonato inteiro, e terminou em segundo lugar após a contratação do novo top lane e suporte. Se há, por um lado, jogadores que se sintam incentivados por isso, como afirmou Kaov, existem alguns que concordam com a analise da myCNB. Este é o caso do top laner da Ban Karma Gaming Lucas "Golias" Urtaran.
Para ele, "é muito mais fácil você encontrar alguém (para uma equipe tier 1) com habilidades da Coréia e com mindset para jogar em equipe do que encontrar um jogador do tier 2 que você acha que irá alcançar a habilidade do tier 1, além de que ele teria que alcançar o mindset coreano". Mais do que isso, ele acredita que a vinda de coreanos é boa para equipes de tier 1, que irão crescer com eles, mas cria, assim como analisou Guilherme "Necro" Silva, uma grande diferença entre times do tier 1 e tier 2. Os que estão fortes ficarão mais forte, e os mais fracos irão se manter ainda mais atrás.
Essa opinião, porém, acaba sendo um tanto amenizada quando lembramos que a Team 58ers, de tier 2, também contrataram dois coreanos. A realidade, portanto, é que atualmente tanto times de tier 1 quanto de tier 2 podem se beneficiar do intercâmbio. Não é, obviamente, a situação ideal continuar trazendo tantos jogadores de fora para cá, mas há um certo exagero em acreditar que os efeitos a longo prazos sejam tão ruins para o Brasil. Além disso, se há muita reciclagem de jogadores, há também times focados na formação de jogadores profissionais vindo da SoloQ, como a Intz Red e Blue.

Won "ReSEt" Jun-ho e Lee "Flash" Min Ho jogarão pela Team 58ers
Portanto, acho errado ser tão pessimista quanto ao futuro do cenário brasileiro, mesmo se os coreanos forem embora. Não há sentido em um cenário regredir em termos de habilidade, a não ser que todo o conhecimento acumulado se extingue sem ser repassado para ninguém, o que obviamente não é o caso. Quanto a organizações deixarem de dar atenção para os novos talentos, isso está acontecendo sim, de certo modo. Parece muito mais comodo contratar jogadores já profissionais do que treinar novos talentos. Porém, isso não é uma regra, visto que novos nomes tem despontado no cenário profissional.
Então, o que acredito que vai acontecer caso os coreanos realmente saiam do Brasil? Não sou otimista a ponto de dizer que as equipes não vão ser afetadas, mas parece extremamente pessimista e incoerente achar que as equipes brasileiras nunca mais serão tão boas. Os times que perderem os coreanos vão claramente sofrer uma queda no índice de vitórias, mas apenas inicialmente. O que eu espero é que, com o que aprendemos com os coreanos, as equipes continuem se tornando mais fortes, até o ponto em que não precisem dos asiáticos para competir a nível internacional. É um caminho muito longo, mas nem de longe impossível, visto que nossas mecânicas individuais não perdem em nada para nenhuma outra região.