
A CBLol do primeiro semestre de 2014 terminou com jogos incríveis. Como não podia deixar de ser, a paiN Gaming e a Keyd Stars, rivais de longa data, travaram cinco jogos emocionantes, que culminou com a Keyd sendo a campeã. O segundo jogo dos cinco, porém, abriu uma questão importante no mundo do e-sports: Até onde a má conduta de um jogador profissional deve ser ignorada, e até onde deve ser tratada com rigor?
Para os que não estiveram familiarizados com os acontecimentos recentes, o top laner da Keyd Stars, Mateus "Mylon" Borges, após solar o top laner da paiN, Han "Lactea" Gihyun, mostrou o dedo do meio para a câmera que o filmava, e, segundo os que assistiam o jogo ao vivo, xingou o adversário em alto e bom de "lixo". São duas atitudes repreendidas pela Riot, que inclusive constam como proibidas em seu regulamento, e que causaram um grande rebuliço entre os fãs, que se dividiam entre os que o defendiam e condenavam.
A equipe da Riot já se manifestou, e deu-lhe uma advertência de que, caso acontecesse novamente, ele seria banido, mas isto apenas atiçou o fogo: Afinal, Mylon possuí uma legião de fãs que se espelham nele, graças ao seu jeito polêmico. Ao deixar o jogador livre após o ato de má fé, mesmo prometendo mais rigor ao lidar com jogadores profissionais após a onda de bans no começo do ano, a empresa abre portas para que o jogador seja imitado por aqueles que o adoram, afinal, "isso não da ban".

A questão aqui não é se Mylon merecia ou não ser banido. Na minha opinião, ele merecia. Não por um tempo longo, poderia ser apenas um banimento simbólico, em que ele não pudesse jogar durante a abertura da próxima CBLol, apenas para passar uma mensagem. Afinal, um jogador profissional, exatamente por estar tão no centro das atenções, deve ser ainda mais rigorosamente punido caso aja de modo inconveniente com sua posição.
A questão, é, sim, qual o impacto que decisão da Riot pode ter sobre o cenário, e mais importante, qual o impacto que os jogadores profissionais tem sobre os jogadores comuns. Todos sabemos que os jogadores com uma base da fãs mais ardosos costumam ser aqueles mais polêmicos, como o próprio Mylon, ou seu companheiro de equipe, Felipe "brTT" Gonçalves. Não há nada de errado em ser polêmico, claro, desde que nos limites entre o "legal" e o "desrespeito total". Hoje, o brTT é o primeiro, e seu colega parece estar se encaminhando para o segundo.
Isso é um fato antigo, já: As pessoas se espelham muito em seus fãs, e em jogos em que a intimidade entre ídolo-fã é tão grande, como no League of Legends, esse reflexo é ainda mais forte. Fãs do Gabriel "Kami" Santos, por exemplo, tendem a ser mais calmos. Fãs da Keyd costumam ser mais exaltados. Varia da personalidade de cada pessoa. Mas esse reflexo, enquanto pode ser algo positivo, também pode facilmente se tornar um veneno. E é aí que a Riot entra.

A empresa não é conhecida por ter medo de penalizar seus jogadores. Já vimos pessoas famosas, como Christian "IWillDominate" Rivera, da Team Dignitas, anos atrás, o jogador André "esA" Pavezzi, ex-jogador da CNB, esse ano, e Elrend "Nukeduke" Holm, da Ninjas in Pyjamas semana passada, serem banidas por muito tempo por comportamento tóxico. O exemplo foi claro: Ninguém está alheio ao regulamento, ou imune a ser banido.
Então porque o Mylon não foi banido? Apesar de ter sido uma falta razoavelmente grave, talvez não tenha sido grave o bastante para justificar um banimento. Foi apenas desta vez, afinal, e todos merecem uma segunda chance. Porém, o que ele fez, fez em rede nacional, com centenas de milhares de pessoas assistindo, e algumas delas, assistindo muito perto dele. A repercussão, quando se faz algo nesse nível, é muito maior do que quando se faz várias vezes em jogos isolados dentro do League of Legends. E um erro assim precisa ser enfrentado com mais rigor, não apenas penalizando a sua equipe, mas o próprio jogador.
Se a Riot errou em confiar mais uma chance a ele, não sei dizer, mas acredito que não. Mylon é um ótimo jogador, e se a advertência apenas já serviu para esfriar sua cabeça, todos saem ganhando. O preocupante, porém, é o impacto que sua atitude tóxica terá em seus fãs, e o impacto que esses fãs terão no jogo. Caso as coisas fiquem preocupantes, talvez seja o sinal de que jogadores profissionais devam ser tratados com ainda mais energia. Afinal, eles são os ídolos de praticamente todo jogador.
Por fim, o jogador já disponibilizou um pedido de desculpas, e se comprometeu a nunca mais cometer este erro. Apesar de ser bastante hostilizado por fãs, continuará a defender sua equipe. Descobriremos se a decisão de não banir foi acertada ou não apenas no próximo mês, e de mim fica apenas o desejo de que a advertência da Riot tenha prevenido que não apenas o Mylon, mas todos os jogadores profissionais de agir do mesmo jeito no futuro.