quinta-feira, 22 de maio de 2014

Importar estrangeiros ou formar jogadores brasileiros?


Keyd Stars: o primeiro time brasileiro de LoL com estrangeiros já mostra os resultados do investimento


No sábado (17/05), a paiN Gaming anunciou a contratação de três coreanos para sua equipe: o toplaner Han “Lactea” Gihyun, o suporte Kim “Olleh” Joo-Sung e o treinador Yoon “Maknoon” Ha-Woon, em jogada semelhante à promovida pela Keyd Stars, ao incorporar o midlaner An "SuNo" Sun-ho e o jungler Park "Winged" TaeJin ao seu plantel.

A presença de tantos estrangeiros reverenciados no mundo de League of Legends vem gerando reações diversas na comunidade brasileira. Quão vantajosa é essa importação de cyber-atletas? Será que o Brasil já não possui talentos a serem lapidados?

Lactea e Olleh  desembarcam no aeroporto
Atualmente o Brasil vive o seu melhor momento no cenário profissional de League of Legends. Na época dos primeiros campeonatos oficiais da região, a carência de patrocinadores de peso, de altos investimentos e de estrutura de ponta limitava a entrada de novos jogadores no competitivo. Apenas quem já estava no ramo continuava. 

No entanto, o que há poucos anos parecia um sonho inalcançável, cada vez mais se torna realidade. Com a crescente profissionalização do jogo, muitos jovens são atraídos pelo mundo do e-Sports. Mas como temos tratado nossos jogadores?

É fato que a importação de atletas sempre foi prática recorrente no mundo esportivo. A todo instante vemos atletas sendo transferidos para outras partes do mundo: futebolistas se encaminhado à Europa, norte-americanos vindo jogar basquete e daí por diante. E no e-Sports? Todos sabemos que o país referência dos esportes eletrônicos é a Coréia do Sul. Por lá, os cyber-atletas recebem o devido destaque e são tratados como verdadeiras estrelas, fazendo propagandas, campanhas e outras atividades publicitárias. 

De olho nisso, a Keyd fez a primeira jogada e tem colhido resultados: a qualidade técnica dos novatos e o entrosamento que ganharam com o resto da equipe foi um verdadeiro "Penta Kill" para cima das dificuldades impostas pelas barreiras linguísticas, apontadas pela comunidade como suposto problema à consolidação da equipe. 

Esse intercâmbio tem gerado ganhos técnicos e culturais extremamente valiosos para as equipes envolvidas, não apenas às contratantes como também às adversárias, agora desafiadas a intensificar treinamentos e a trazer inovações táticas aos campeonatos. Mas como nem tudo é canela, vamos aos cravos: qual seria o lado negativo de importar, em vez de investir e formar?

Há aqueles que apontam o risco de que o Brasil se converta numa "segunda liga coreana"; outros identificam na importação um "mal necessário" para que nossa comunidade finalmente seja reconhecida – ou pelo menos conhecida no plano internacional

Curiosamente, no entanto, nosso próprio cenário demonstrou há pouco tempo que não é tão dependente assim de estrangeiros. O potencial brasileiro de revelação de talentos ficou evidente quando, no começo do ano, uma equipe composta por jovens desconhecidos fez bela campanha em um dos principais torneios do competitivo. Batendo de frente com todos os adversários (inclusive internacionais) na Intel Extreme Masters – São Paulo, a Seven Wars rapidamente alcançou o status de “joia brasileira do e-Sports”. Mas, como sabemos, problemas de má conduta frente ao Código do Invocador abreviaram a fase meteórica da equipe.

A Seven Wars fez boa campanha na IEM-SP 2014
Outro caso que mereceu destaque foi o protagonizado por Thiago “Tinowns” Sartori, midlaner da Kabum e-Sports. Sua habilidade nunca foi questionada, mas, quando chegava aos presenciais, o jogador de 17 anos não conseguia emplacar. A ansiedade e a pressão o derrubavam. Foi necessária uma nova temporada e uma nova formação em sua equipe para que conseguisse demonstrar todo o seu potencial. Até então escondido, seu talento foi finalmente revelado e hoje o destaca como um dos melhores midlaners brasileiros. O rendimento não foi imediato; precisou ser cultivado como aposta de longo prazo pela Kabum, que seguramente não se arrepende. A promessa virou realidade. 

Antes, uma promessa, Tinowns já é realidade do cenário brasileiro
Somente quando feito com prudência e planejamento, o investimento em novos jogadores compensa. Para que se tornem as estrelas e atrações de amanhã, os talentos não podem ser pressionados a render hoje. Assim, cabe aos companheiros mais experientes transmitir a tranquilidade e confiança de que precisam para continuar sua evolução técnica, e à organização se aproximar mais das ranqueadas de alto nível, que seriam as verdadeiras "categorias de base" do LoL no país.

Chegou ao momento em que o cenário competitivo brasileiro merece, por parte de seus gestores e agentes de relevo, decisões estratégicas saudáveis ao futuro de League of Legends no país. Será que perpetuaremos um problema típico das consideradas novas regiões oficiais como América Latina, Rússia, Turquia e Oceania, isto é, ocuparemos o espaço de novos talentos com jogadores “velhos”, sempre recicláveis mas por vezes engessados? Ou abraçaremos novas mentes e dedos, capazes de desafiar o cenário estabelecido com mecânicas e jogadas inovadoras?

Lapidar uma joia é um trabalho demorado, que nem sempre vem acompanhado da garantia do retorno esperado. Mas por vezes é um risco necessário. Que, no país do curto prazo, tenhamos a coragem de tomar kills para pegar torres; a audácia de dar um passo para trás para andar dois adiante e colher frutos duradouros.


Matéria feita em parceria com a Super Liga X (com a colaboração de Igor Vasconcelos e Gustavo Sousa)

[Fotos: Keyd Stars campeã da BGL Arena #3 - Créditos: Agência X5 | Seven Wars na IEM-SP 2014 - Créditos: Agência X5 | Tinowns na WCG Brasil - Créditos: Agência X5]


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