quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Machismo no e-sports #02: League of Legends

 
Machismo no e-sports. (Fonte: montagem + web).

Antes de tudo, gostaria de agradecer aos mais de 75 comentários (e treze mil visualizações) da primeira parte deste artigo. Isto só comprova uma coisa: a importância deste assunto para nossa comunidade. E digo isto, com base no debate acalorado que se seguiu com várias respostas a algumas opiniões. Como a intenção do Demacia é, justamente, promover uma saída do senso-comum e um debate saudável, trazemos nesta semana a segunda (e última) parte desta série ainda mantendo a mesma questão central: a baixa participação de jogadoras ou times femininos dentro das principais competições de e-sports.

Por que é importante frisar? Simples, pois muitos comentários acabaram direcionando-se a outras questões genéricas, como a baixa participação de mulheres (em geral) em jogos eletrônicos, a experiência de alguns jogadores (em soloQ ou jogos normais) com jogadoras e, principalmente, justificações do machismo pelo desempenho de algumas jogadoras nestas mesmas experiências já supracitada.

Vale nota, portanto, que a intenção do artigo não é transformar as mulheres que jogam em vítimas do machismo ou utilizá-lo como desculpa para a baixa profissionalização destas. Seria muita hipocrisia ser tão raso a este ponto. Aliás, por este motivo, utilizamos um artigo (o anterior) apenas com um histórico para mostrar que o machismo tem uma razão social e histórica e não é mero fruto de um desempenho ruim. Até porque todos nós estamos suscetíveis a jogos ruins.

‘Attwhorismo’ e as ‘maria elo’

Existe uma ideia povoada no cenário brasileiro (mas podemos expandi-lo para outros países, sem dúvidas) de que uma garota só consegue atingir divisões superiores da soloQ (e consequentemente obter visibilidade e atenção do cenário) através de ajuda. Seja uma ajuda pelos seus dotes físicos, as chamadas ‘attwhores’, ou pelas suas relações (contatos), as chamadas ‘maria elo’.

Vídeos da semana da twitch.tv (Fonte: Twitch).

Em linhas gerais, uma menina “attwhore” é aquela que necessita de atenção a todo momento, que finge ser o que verdadeiramente não é, que até muda constantemente de personalidade para agradar as pessoas em sua volta, conseguir amigos, enfim. São meninas que são ''putas por atenção''. A jogadora Nicolle “Nycts” Nascimento destaca, contudo, que “existem pessoas assim em toda parte, na sua faculdade, no seu serviço, e etc., pessoas que preferem chamar a atenção dos outros não por merecimento do seu trabalho”.

E completa: “mas não são todas as mulheres no LoL (ou em qualquer outro e-sport) que são dessa maneira, existem mulheres que são muito melhores que muitos homens por ai, só é uma questão saber separar, quando isso começar acontecer tenho certeza que as coisas vão melhorar”.

Vitória “Ruukia” Cecilia, jogadora da line-up feminina da VoiD, afirma que: “Sinceramente? 90% das mulheres jogam mal. A maioria das mulheres que atualmente jogam League of Legends e estão em um bom elo (vulgo platina+) provavelmente são upadas ou jobadas, por isso que não existe um cenário e este só existirá quando as mulheres tiverem uma média de elo Diamond 1 pra conseguir competir de frente a frente com o competitivo atual”.

Um pouco diferente das “attwhores”, as chamadas “maria elo” utilizam-se de contatos (muitas vezes amigos, namorado, ficante, etc.) para poder subir o seu elo na soloQ. Isto decorre, em partes, de algo que foi abordado no primeiro artigo. Muitas garotas são acostumadas – ao longo dos jogos e do tempo – a serem jogadoras se apoio, vulgo suportes. Não é raro vermos (ou ouvirmos) casais gamers onde a garota sempre começa atuando como suporte. Isto faz parte de um papel social e historicamente imposto. E, talvez, isto explique porque grande parte das garotas que jogam são especialistas nesta posição.

Este papel imposto, junto ao descrédito coletivo em ter garotas em outras posições contribui, sem dúvidas, para a baixa profissionalização de garotas em nosso cenário.

Reflexos do machismo e para onde vamos

Jogadora "Naat1". (Fonte: Acervo RMA)

A jogadora Natália “Naat1” Franco, da RMA Ozone, pontua que “o preconceito afasta sim algumas meninas a jogarem, se fecharem e só ficar ‘entre amigos’, é realmente algo que afeta (pras mais sensíveis)”. Karoliny “Rirunno” Hupp, da Acezone Academy e primeira mulher a atingir o Challenger, corrobora com Naat1: “Normalmente as mulheres são desmerecidas simplesmente por ser do sexo feminino, pois acham que não somos capazes. Talvez se houvesse mais campeonatos femininos, no estilo da go4lol por exemplo, poderiam fazer com que mais mulheres se interessassem no competitivo e na profissionalização no e-sports”.

Falando em termos de cenário, o League of Legends ainda não se posicionou a cerca desta questão. Conforme foi visto no artigo passado, cenários de fps como o CS:GO – que possui campeonatos segmentados e exclusivo para mulheres – e o Crossfire – que tem um time misto no país e que vai disputar um campeonato mundial na China este ano – encaram esta questão de gênero de maneiras distintas.

Num passado recente – porém remoto – tivemos experiências de line-ups exclusivas de mulheres, mas que não prosperaram muito (como o caso emblemático da equipe internacional Syren  que não durou sequer uma semana e apenas causou um alarde). Com poucos campeonatos no circuito amador, ainda mais segmentados, fica difícil apostar no crescimento de um cenário segmentado e, por este motivo, temos alguns projetos – como o da própria Acezone Academy – que tentam mesclar homens e mulheres numa mesma equipe. A RMA Ozone, por sua vez, retorna a apostar em um time feminino, mas que provavelmente disputará campeonatos sem distinção de gênero.

RMA Ozone, line-up feminina recentemente formada. (Fonte: RMA).
Os caminhos ainda são incertos, de fato, mas a questão de gênero é muito mais complexa e extensa do que estes artigos poderiam abarcar. De todo modo, fica aberta a primeira grande análise sobre o tema, mostrando ao cenário que esta não é uma mera questão de “ter dedos”, mas resultado de algo histórico e cultural. Se as meninas vão conseguir galgar igualdade (não preferência, que fique bem claro!) em nosso cenário só o tempo dirá.

Matéria realizada com as contribuições de:Valnir Junior – Redator do Demacia.
Mahara Zamban – Redatora do Demacia.
Tiago “Thongar” Carvalho – Diretor-Executivo da RMA.
Natália "Naat1" Franco - Jungle da RMA Ozone.
Karoliny “Rirunno” Hupp – Suporte da Acezone Academy.
Nicolle “Nycts” Nascimento – Suporte da Acezone Girls.
Vitória “Ruukia” Cecilia – Adcarry da VoiD.

PS: Clã, reativei recentemente meu twitter, quem puder dar aquela moral: @thiwallzzvieira.




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