quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Machismo no e-sports #01: breve histórico

Machismo no E-sports (Fonte: web + montagem).

Saudações,

Esta semana, a chegada da jogadora Karoliny "KittyKaht" Hupp, na sua conta "Rirunno", ao tier Desafiante (Challenger) trouxe à tona uma discussão muito pertinente ao cenário competitivo de League of Legends: a baixa participação de jogadoras ou times femininos dentro das principais competições de e-sports. Este questionamento – que, na realidade, já vem sendo feito há um bom tempo – possui raízes que vão muito além do e-sport e merecem uma análise aprofundada dos motivos que acarretam este panorama.

Printscreen da "KittyKaht" no challenger (Fonte: Facebook).


E é exatamente isto que pretendemos abordar neste artigo. A nossa equipe se mobilizou em busca de jogadoras que participam de equipes e estão em busca da profissionalização para escutar onde estão os principais problemas e implicações que explicam a nossa questão central. Para tanto, como o tema é bem complexo, teremos de dividi-lo em duas partes. Neste aqui, abordaremos a questão do machismo em termo gerais e apenas no segundo vamos para o impacto dentro da comunidade do League of Legends e seu cenário competitivo.

O machismo nosso de cada dia


É impossível abordar um tema desta natureza sem antes fazer um panorama histórico da questão de gênero. Ignorar isto é ser hipócrita e generalista e, claro, não queremos fazer algo tão raso assim. Ao longo das últimas décadas, as mulheres conquistaram uma série de direitos inerentes na sociedade. A antropóloga Mirian Goldenberg, afirma que a mulher atuou como uma “propulsora de grandes mudanças”, pois quebra o paradigma entre a mulher de casa e a mulher da rua.

A presença da mulher em diversos segmentos profissionais, seu posicionamento nestes espaços e, além disso, a quebra de uma série de preconceitos nos âmbitos esportivos, sexuais e de pensamento trouxeram ganhos substanciais para a sociedade. É exatamente isto que o feminismo propõe sendo “um movimento social, filosófico e político que tem como meta direitos equânimes (iguais) e uma vivência humana, por meio do empoderamento feminino e libertação de padrões opressores baseados em normas de gênero. Envolve diversos movimentos, teorias e filosofias advogando pela igualdade para homens e mulheres e a campanha pelos direitos das mulheres e seus interesses”.

Historicamente, a educação de nossos filhos e filhas foi ditado por estes padrões de gênero. Aos meninos, bolas e carrinhos. Às meninas, bonecas e utensílios domésticos. Em nosso país, nos anos 80~90, a chegada dos primeiros jogos eletrônicos também ditou toda uma geração. Uma geração de homens gamers, majoritariamente. Geração esta que educou a próxima geração e, hoje, podemos dizer que estamos chegando uma terceira geração de homens que ensinam outros homens a jogar vídeo-games. Porém, entre a segunda e terceira geração, contamos com a presença cada vez maior de garotas que também se interessam por jogos eletrônicos, sejam eles vídeo-games, jogos de computador, nos seus mais diversos gêneros (fps, estratégia, mmorpgs, mobas).

MMORPG: um divisor de águas e precursor do e-machismo


Nos anos 2000, tivemos os primeiros títulos de impacto do gênero MMORPG, a exemplo do famigerado Ragnarök. E, através dele, tivemos os primeiros sinais do machismo incutido na mente de nossa geração de garotos e garotas gamers. A começar pela divisão das classes do jogo, onde aos garotos os papéis de assassinos e guerreiros sempre foram os principais e às meninas ficavam os papéis de suportes e tankers.

“Heal plz”, quem nunca ouviu isto num jogo eletrônico voltado àquela curandeira sentada em Payon. Ou mesmo no assédio quando se sabia que determinado personagem seria controlado por uma garota de verdade (ah, os hormônios da adolescência…). Esta delimitação de gênero, inclusive, incitou uma certa toxidade à época, que persiste até hoje, as shemales.

Numa tradução livre, poderíamos chamar de “travecos”, mas no meio eletrônico o termo refere-se à homens que criavam personagens femininos em jogos para obter algum tipo de vantagem in-game. Aqui, cabem dois pontos: 1) todo mundo é livre para criar o que quiser num ambiente virtual (ué, você também não joga de Ashe, Caitlyn, Lissandra e outros personagens femininos no LoL?); 2) Usar de um ardil (truque, enganação) para obter vantagens através de aparências.

Embora todo mundo seja livre, havia jogadores que se utilizavam disto de uma maneira exageradamente tóxica, aproveitando-se da inocência de alguns jogadores. E isto criou um preconceito coletivo com personagens femininos – sobretudo aqueles que jogavam ~ bem ~. Por exemplo, se uma menina jogasse como assassina e tivesse “dedos” (como se diz até hoje) rapidamente era flameada como uma shemale.

Machismo no e-sports: Um panorama geral

Tiago "Thongar", diretor-executivo da RMA E-sports.

E isto foi importado para outros jogos, como os fps. Como os jogos de tiro são dominados majoritariamente por homens, existe um grande preconceito da comunidade. Tanto que existe uma segmentação dos torneios deste gênero para mulheres, como conta o diretor-executivo da RMA E-sports, Tiago “Thongar” Carvalho: “no meio do FPS é muito comum e tradicional os campeonatos serem segmentados em grandes torneios, como Copenhagen Games, Dreamhack e ESWC, além de diversos campeonatos online como os da própria ESL europeia”.

Esta segmentação, conforme apontam algumas pessoas, ajuda no desenvolvimento do cenário competitivo voltado para mulheres. Mas você deve estar se perguntando: “Poxa, mas é esporte eletrônico, não precisa usar força, porque homens e mulheres não podem competir juntos? Ou porque não existem times mistos?”

Para estas perguntas, existem múltiplas respostas. A começar, isto vai depender do cenário e da própria comunidade. Como foi dito anteriormente, a maioria dos fps tem essa cultura de segmentar os seus torneios competitivos. Porém, no próprio fps, no Crossfire, temos um exemplo nacional que foge à regra e na própria RMA.
"Mystique" (Centro) e equipe de Crossfire da RMA.

Carol "Mystique" Melo, capitã do time de CrossFire,  está prestes a viajar para a China para competir no mundial do game. “Thongar” conta que: “Ela é a única mulher da equipe e a única a competir em nível internacional no mundo todo. A imprensa chinesa tem comentado muito sobre como será seu rendimento. Mystique é muito importante para o crescimento nacional do cenário, é sem dúvida uma das poucas capitãs que realmente seguram um grupo de jogadores e extrai o melhor deles”.

Isto prova que não existe uma fórmula pronta. Cada jogo e cada comunidade encaram a questão do machismo e as garotas gamers de uma forma muito particular. No League of Legends não é diferente. E é exatamente isto que vamos abordar em nosso próximo artigo, aguardem!


Matéria realizada com as contribuições de:
Valnir Junior – Redator do Demacia.
Mahara Zamban – Redatora do Demacia.
Carol “Mystique” Melo – Capitã do time de Crossfire da RMA.

Tiago “Thongar” Carvalho – Diretor-Executivo da RMA.

PS: Agora eu reativei meu twitter (tá na moda!), sigam-me lá: @thiWALLZZvieira






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